Você sabia que seu extrato bancário diz muito sobre quem você é?
Apesar de a nossa cultura considerar o dinheiro como um tabu, um assunto sobre o qual as pessoas costumam evitar falar, a relação que nós mantemos com o dinheiro diz muito sobre quem somos. A forma de usá-lo revela se somos mais cuidadosos, ou tendemos a reagir de forma impulsiva.
As coisas com as quais gastamos mostram nossas prioridades de vida. De acordo com o espanhol Joan Antoni Melé, que promove a ética nos bancos e a economia consciente, o extrato bancário permite fazer uma radiografia das motivações da pessoa e dos seus pontos fracos.
Esse é um dos temas abordados no livro “Money Mindfulness”, de Cristina Benito, economista que fez carreira como assessora financeira da Morgan Stanley. Ao longo de sua trajetória profissional, ela foi percebendo que não são só os menos favorecidos financeiramente possuem problemas com o dinheiro. Os ricos também podem ter relações muito insalubres com suas finanças. Graças a esta conclusão, decidiu escrever sobre os cinco perfis psicológicos mais comuns, definidos de acordo com a relação que cada pessoa possui com seu mundo material.
Ao primeiro perfil Cristina deu o nome de “Piromaníaco”. Ele é definido como a pessoa cujo dinheiro “queima nas mãos” e, portanto, gasta de maneira compulsiva. Segundo a autora, por trás de um consumismo descontrolado há quase sempre uma grande insatisfação. Quem não está satisfeito com o trabalho ou com a vida precisa “se premiar” para compensar tudo de que não gosta, dando-se presentes cujo prazer evapora tão rápido quanto o próprio dinheiro.
O segundo perfil ela denominou de “Desprendido”, sendo esta pessoa caracterizada pela necessidade de entregar seu dinheiro e seu tempo aos demais. Quem se relaciona dessa forma com o dinheiro se apressará em pagar a conta de um jantar entre amigos ou emprestará uma quantia que depois não será devolvida.
O “Neurótico” é o terceiro tipo de perfil. As pessoas deste grupo possuem a crença de que enriquecer é ruim, o que as leva à constante autossabotagem. Se as coisas saem bem, isso significa que traíram seus princípios ou prejudicaram os outros. A ideia de que é preciso ser pobre para ser puro está enraizada na cultura judaico-cristã.
A Bíblia nos recorda que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”. O sujeito que tem essa neurose com a pobreza também pode ter medo de ser criticado, ou inclusive de perder afetos, se melhorar seu nível de vida.
O quarto perfil psicológico é o da “Formiguinha”. Este é o tipo mais comum, composto por pessoas que costumam ter uma renda média, uma vida financeira relativamente estável, mas possuem um enorme e desproporcional medo de ficarem sem dinheiro a qualquer momento, e por isso não aproveitam a vida.
A fixação doentia com a austeridade faz com que estas pessoas passem por dificuldades e privações injustificadas. Há um medo de que surjam gastos inesperados, de perder o trabalho, de uma catástrofe geral da qual ela só se livrará graças às economias.
Ao quinto e último perfil Cristina dá o nome de “A nuvem do não saber”, que se refere às pessoas que preferem que o outro se ocupe do seu dinheiro. Delegam essa responsabilidade ao companheiro, à família, a um agente autônomo ou a uma empresa de investimentos, para que não se sintam responsáveis pelo seu fracasso, caso algo de ruim aconteça ao seu dinheiro.
De acordo com a autora, “o dinheiro não dá necessariamente felicidade, mas uma má relação com ele leva à infelicidade”. Neste sentido, o livro Money Mindfulness é uma forma de pararmos de nos sentirmos aprisionados por algo que foi criado para nos ajudar.
Compreender como o dinheiro funciona, assim como a nossa forma de pensar, nossas emoções e comportamentos, permite-nos assumir o controle da nossa vida, ou seja, sermos protagonistas de nossas próprias decisões em vez de sermos escravos de nossa condição financeira.
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Mariana Sant / Abril - 2021