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O Bitcoin é ou não um ativo antifrágil?

Confira o estudo do Bitcoin pela ótica da antifragilidade

26 de abril de 2022
Publicado em:
26/04/2022
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Primeiramente, o que é antifragilidade?

Esse termo foi primeiramente definido pelo renomado escritor Nassim Taleb, para se referir a coisas, instituições ou ativos que se beneficiam com o caos.

antifragil

Por caos também podemos entender como o aumento da desordem ou volatilidade.

Vamos pensar em uma coisa frágil, como por exemplo uma taça de vidro ou cristal. Quando exposta a uma criança inquieta e curiosa (nosso exemplo de caos, desordem ou volatilidade), há grandes chances de que ela se quebre.

Já uma bigorna de metal dificilmente se quebraria quando exposta às mesmas condições. Então seria uma coisa antifrágil, certo? Errado!

A bigorna provavelmente se manteria intacta, com as mesmas características de antes, então pode ser considerada como uma coisa robusta ou resistente, mas não se beneficiaria disso.

Lembre-se, antifrágil é aquilo que se beneficia com o aumento do caos, desordem e volatilidade. Vejamos o exemplo do Bitcoin:

Custo de transação e escalabilidade:

No final do grande mercado de alta de 2017, a demanda por transações na rede aumentou de forma expressiva e com isso as taxas de transação tiveram um grande salto, chegando a custar mais de US$50 e inviabilizando totalmente as pequenas transações.

taxas de transação bitcoin

Fonte: The Block

A resposta foi o desenvolvimento do Segwit, uma atualização que permitiu uma maior eficiência no registro das transações por bloco, separando a assinatura digital que representava aproximadamente 65% do espaço disponível.

Como o espaço disponível em cada bloco é limitado e o aumento de seu tamanho total poderia prejudicar a descentralização da rede, isso permitiu que muito mais transações pudessem ser incluídas em cada bloco.

Adoção segwit

Fonte: Glassnode

Porém, como o gráfico acima (que representa a adoção e utilização deste novo modelo de endereços) nos mostra, seu uso permaneceu relativamente estável entre setembro de 2019 e maio de 2021, período em que as taxas também se mantiveram bastante reduzidas.

Quando um novo grande aumento no custo das transações voltou a ocorrer, a adoção desta solução também voltou a acelerar, mostrando que a rede como um todo veio se beneficiando com o caos e aumento da desordem de tempos em tempos.

Afim de resolver esse mesmo problema, outra solução (dessa vez de segunda camada) foi implementada na rede do Bitcoin, chamada de Lightning Network. Resumidamente, ela possibilita processamento de transações em canais alternativos, fora da blockchain principal.

capacidade lightning network

Fonte: Glassnode

Da mesma forma que a adoção do Segwit, a capacidade da Lightning Network permaneceu estável por um longo período de tempo que marcou o baixo custo de transações, só voltando a crescer junto com o aumento da desordem no ecossistema.

Do ponto de vista do custo de transações e capacidade de escala, a rede do Bitcoin não apenas “sobreviveu” ao problema como se espera de uma coisa resistente, como também se beneficiou disso, característica de um ativo antifrágil.

Descentralização

A descentralização é um importante componente para a rede do Bitcoin, uma vez que a alta concentração geográfica dos mineradores pode prejudicar seu poder de processamento de transações em caso de ações de governos autoritários ou crises energéticas locais.

Esse problema foi visto na prática em meados de maio de 2021, quando o governo chinês decidiu por banir a atividade de mineração no país, fazendo com que a força computacional da rede caísse para menos da metade.

força computacional bitcoin hashrate

Fonte: Glassnode

Segundo estudo da Universidade de Cambridge, a China chegou a concentrar aproximadamente 75% da atividade de mineração em setembro de 2019, mas passou a praticamente zero depois da proibição por parte do governo.

Com isso, muitos desses mineradores se realocaram para outras partes do mundo, em busca de energia barata e uma regulamentação mais amigável. O resultado foi uma maior diversificação geográfica, fortalecendo ainda mais o caráter descentralizado (e global) do Bitcoin.

market share mineração

Fonte: Universidade de Cambridge

Mais uma vez, agora pela ótica da descentralização da rede, o Bitcoin se comportou como um ativo antifrágil, que não apenas resistiu ao problema como também passou a se beneficiar do aumento da desordem.

Adoção

Essa característica de antifragilidade do Bitcoin não fica restrita apenas a aspectos técnicos de sua rede. O mesmo pode ser observado no que se refere ao conhecimento e adoção de sua tecnologia, conforme aumenta também o caos e desordem no sistema financeiro tradicional.

Ainda em janeiro, quando contas bancárias e plataformas de financiamento coletivo usadas por manifestantes canadenses que protestavam por liberdade foram bloqueadas por ordem do governo, a melhor alternativa encontrada para apoiar o movimento foi através do Bitcoin.

Fonte: Cointimes

Já no dia 26 de fevereiro, o Bitcoin surgiu também como assunto relevante na guerra, quando o Twitter oficial do governo ucraniano publicou endereços de carteiras recebendo doações em Bitcoin e outras criptomoedas para se financiar.

Mas não apenas movimentos organizados e países tem encontrado nas criptomoedas formas de se financiar diante de situações adversas (aumento do caos e desordem), como crescem também relatos de indivíduos garantindo a preservação de suas vidas e liberdade graças ao Bitcoin.

Fonte: Cointelegraph

Dessa forma, além de não estar sujeito a pontos de controle centralizados, sendo uma rede aberta em que qualquer um pode participar, o Bitcoin cresceu em popularidade a medida que mais pessoas precisavam recorrer a alternativas ao sistema financeiro tradicional.

Conclusão

Com isso podemos observar que o Bitcoin apresenta diversos componentes que podem o classificar como um ativo antifrágil, tendo se beneficiado diversas vezes de situações em que ocorre o aumento do caos, desordem e volatilidade, seja de seu próprio ecossistema ou do sistema financeiro tradicional.

No curto prazo, ainda que esses impactos possam trazer desafios não só para as cotações, mas também para o funcionamento da sua rede como um todo, no longo prazo ele tem se tornado cada vez melhor, mais eficiente e utilizado ao redor do mundo.

Nota explicativa:

A intenção com essa reflexão é apenas analisar o comportamento histórico do Bitcoin pela ótica da antifragilidade, não visando substituir a interpretação do próprio Nassim Taleb, criador do termo antifrágil, que tece críticas recorrentemente ao Bitcoin e demais criptomoedas.

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